Eu também precisei de terapia morando fora

Juliana Bom Tempo - www.jubomtempo.com - Ju Bom Tempo

Eu também precisei de terapia morando fora

2014 foi o ano o qual deambulei estrangeira ao realizar Estágio doutoral em Paris/FR, seguindo os cursos de filosofia na Université Paris II – Sorbonne; na École Normale Superieur e na Université Paris X – Ouest-Nanterre. Vale lembrar que esse estágio só foi possível graças ao financiamento da bolsa PSDE da CAPES durante todo o ano de 2014, ligado ao doutorado em Educação realizado na Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP/SP.
Uma deriva geográfica e linguística exigida para realizar o tão sonhado estudo acerca da filosofia francesa contemporânea. Ao chegar à Paris em janeiro de 2014, na intensificação de um inverno que acinzentou o céu durante três meses, uma ansiedade me invadia e trazia inevitavelmente a sensação de precariedade, que passou a habitar meu cotidiano. Ao sair de casa, por dias seguidos, seguia trêmula e tinha a sensação que não conseguiria caminhar. O que se confirmava a cada saída, seja para comprar uma baguete, seja para enfrentar o frio a caminho dos seminários na Sorbonne. Por mais que a dimensão simbólica e interpretativa do “não conseguia andar” atraísse um vitimismo iminente, o que de fato me interessava ali era lidar com essa sensação. Era final de inverno e começo de primavera, quando esse sintoma se intensificou. Eu tinha medo de sair do pequeno Studio que me acobertava e a cada vez que saia, experimentava, em certa estrangeirice familiar, cair. Minhas pernas e meus apoios falhavam a cada saída e, a cada queda, a sensação de que iria sucumbir. A intensidade da pulsação da caixa toráxica era cada vez mais sensível e as fibrilações de um coração que não aguentava mais andar pelos 45m² onde habitava no 13o emme arrondissement, próxima à Place d’Italie. Percebi o quanto os deslocamentos intercontinentais gestaram instabilidades em algumas funções cognitivas e aceleraram algumas sensibilidades corporais. Estrangeira e anônima, assim me sentia ao andar pelas ruas de Paris. Várias vezes me senti paralisada e a ansiedade e o pânico me restringiram ao pequeno Studio onde me refugiava, uma paralisia a bloquear as passagens, através do sintoma do medo de sair de casa e pelo assombro frente a certa sequência de quedas repetidas que, inevitavelmente, ocorriam. Foi nesse momento que percebi a importância e a urgência de ajuda e suporte profissional qualificado. Fiz psicoterapia on-line com um profissional brasileiro residente no estado de São Paulo. No final de fevereiro de 2014 iniciei o acompanhamento e, esse apoio semanal, foi imprescindível para eu conseguir me organizar, me sentir confiante e segura, tanto para continuar meus estudos quanto para aproveitar o tempo em que residi em Paris- FR. Pude conhecer vários países da Europa e me sentir bem com outras línguas e outros ambientes. Passei a confiar no que sabia e entendia das aulas e realizei minha defesa de doutorado em português e em francês, tendo a presença da minha co-tutora Prof.ª Dr.ª Anne Sauvagnargues da Sorbonne na UNICAMP-SP. O apoio psicoterapêutico de uma perspectiva intercultural pode ajudar a enfrentar o desconhecido, aos poucos e seguindo dia após dia. Hoje, sei, pela minha experiência profissional, e, também, por ter vivenciado isso na pele, o quanto pé imprescindível o acompanhamento psicoterapêutico para brasileiros residentes no estrangeiro por brasileiros que se sensibilizam com as nuances de estar fora do seu país.

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